
De acordo com o Dicionário Aurélio farpa é “1. Ponta metálica penetrante, em forma de ângulo agudo; 2. Lasca de madeira que por acaso se introduz na pele”. Então é assim, a farpa, aquela que penetra na pele silenciosamente, que machuca com o tempo, que abre uma ferida que muitas vezes não pode cicatrizar.
É essa dor, essa ferida de anos, que a Companhia Mínima leva para os palcos com a peça “A Farpa”. Uma família que vive na roça, carcomida pelo tempo, o atraso e a falta de perspectivas. Pai e filho dementes, uma irmã que sonha em ir embora, uma mãe que lamenta a perda dos filhos, uma irmã morta, um cunhado que já nem fala e um irmão que volta depois de uma temporada na cidade.
A trama gira em torno da dificuldade de sair dos limites da cerca da fazenda e dos ferimentos que isso traz a cada um dos personagens. Há dor estampada em cada um. A dor da morte pela farpa, do sangue jorrando sem que ninguém possa fazer nada.
“A farpa” é até mesmo trágica. Forte, tanto na ação dramática quanto na preparação corporal dos atores. Os traços dos personagens mostram-se bem definidos com gestos e ações repetidas, bem estudadas, que mostram o máximo de sua demência ou desespero, mesmo quando nada é dito.
Mas o trabalho corporal supera e muito o trabalho de interpretação e há problemas principalmente na dicção de alguns atores. É impossível entender a metade do que a atriz que faz a irmã morta diz, o que prejudica o entendimento de algumas cenas.
Isso sem contar que a peça se arrasta no começo. Cantigas, ações repetidas, falas desnecessárias acabam por cansar o público. Até que do meio para o final, a ação começa a se desenrolar, vê-se o que realmente é a história e não um amontoado de coisas sem ligação.
É necessário que se enxugue o começo para que seja impresso o ritmo que “A Farpa” merece e que é conseguido a certa altura da trama. A dança do irmão louco com a irmã morta. Esse é o auge da peça. Aí é que eles mostram a que vieram. Pena que já é no final.
A Farpa foi apresentada pela Companhia Mínima entre os dias 11 e 12 de junho de 2011 no teatro do Centro Cultural Goiânia Ouro.
Direção e Concepção geral: Franco Pimentel
Atores: Allan Silvestre, Andreane Lima, Dulce Roza, Jakeline Araújo, Jenyffer Karla Crispim, Petrônio Magalhães e Wildes Crispim.
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Mayara,
É muito bom ver que algumas pessoas estão produzindo crítica em nosso meio teatral. Isso só nos ajuda no amadurecimento do trabalho.
Parabéms pela iniciativa e obrigado pelos justos apontamentos.
Abraço.
Franco Pimentel