Viagem cultural - Parte 1 (A alma boa de Setsuan)



Entre os dias 18 e 21 desse mês estive em São Paulo. Nas três noites em que passei por lá assisti as peças “A alma boa de Setsuan”, “Hipóteses para o amor e a verdade” e “Policarpo Quaresma”. E é sobre esses espetáculos que escrevo nos próximos dias (eles seguem a ordem que assisti).

A alma boa de Setsuan

Há alguns meses havia lido na revista “Bravo!” sobre “A alma boa de Setsuan”. A crítica elogiava a peça e a atuação de Denise Fraga. Confesso que cheguei à São Paulo com muitas expectativas quanto ao espetáculo. Expectativas que não se concretizaram.
“A alma boa de Setsuan” é um texto de Bertold Brecht que conta a história da prostituta Chen Tê. Ela é considerada pelos deuses que visitam Setsuan, um vilarejo da China, como a única alma boa ainda existente.
Chen Tê, passa por dificuldades financeiras.“Como posso ser boa se tenho que pagar o aluguel?”, pergunta a mulher. Então, os deuses decidem dar-lhe dinheiro. E com as moedas de prata que ganha, ela compra uma tabacaria. Mas logo as pessoas pobres da cidade começam a explorar a bondade da ex-prostituta. Ela lhes dá comida, abrigo e eles querem cada vez mais.
Ao perceber que está sendo passada para trás, Chen Tê resolve se transformar em Chui Ta. Ela finge ser um primo que vive em outro vilarejo e que veio para cuidar dos negócios dela. Ao contrário da prima, Chui Ta é duro e não se deixa enganar. Tudo o que Chen Tê doava agora só será dado em troca de trabalho. Assim a empresa prospera. Mas se Chen Tê é amada por todos, Chui Ta é odiado.
E assim a ex-prostituta que é o extremo da bondade se divide. Ela precisa de um duplo, ela se transforma em homem quando precisa deixar a bondade de lado, quando precisa inclusive ser má. Ela precisa fazer isso em um mundo em que ser boa virou sinônimo de boba. “A alma boa de Setsuan” deixa o final em aberto. Uma reflexão para a plateia sobre a bondade, se é que ainda há almas boas no mundo.
O figurino da peça é muito bonito e bem feito. Realmente nos transporta a outro país, um vilarejo imaginário da China onde a pobreza de uns contrasta com a riqueza de outros. Onde o vendedor de água esfarrapado apanha do rico empresário vestido com sua adornada túnica.
O cenário é simples, bonito e funcional. Cada ator tem uma espécie de camarim no fundo do palco. Um local com espelho, cadeira e uma penteadeira. Ao virar esse “camarim”, ele se transforma nas paredes das casas, na tabacaria, na fábrica.
Alguns atores se destacam, como Maurício Marques, que faz o vendedor de água e amigo de Chen Tê. Ele é um malandro que se passa por coitado. E o ator consegue muito bem se transportar entre esses dois paralelos, o do pobre miserável e o do esperto que quebra a própria mão para conseguir uma pensão. Vera Mancini também faz bonito no papel da fogosa Senhora Yang, que cobra o aluguel da tabacaria da ex-prostituta, mas que trocaria isso tudo por um homem como Chui Ta ou o avidaor Sun.
Sei que você deve estar pensando que o texto está acabando e ainda não falei porque me decepcionei. Tudo bem, vamos ao assunto. A decepção foi justamente Denise Fraga, que ganhou vários prêmios de melhor atriz pela peça. A voz dela é baixa, anasalada, de difícil compreensão como Chen Tê, o que melhora quando ela engrossa para fazer Chui Ta.
Ela não faz comédia, não faz drama, em cena ela é Denise Fraga, assim como a vemos nos papeis da TV, assim como nos quadros que ela tinha no Fantástico. Falta interpretação. Talvez a peça fosse melhor se ela interpretasse e não apresentasse.

Ficha Técnica:

Direção de Marco Antônio Braz
Assistente de direção: Ana Paula Nero
Adaptação de Marco Antônio Braz e Marcos Cesana


Elenco

Denise Fraga
Ary França
Cláudia Mello
Joelson Medeiros
Kiko Marques
Fábio Herford
Marcos Cesana
Vera Mancini
Maristela Chelala
Virgínia Buckowski
João Bresser


Equipe:

Cenografia/Direção de Arte Márcio Medina
Trilha Sonora Théo Werneck
Iluminador Wagner Freire
Figurinista Verónica Julian
Visagista Emi Sato
Produção Executiva: José Maria
Direção de Produção: Fernando Cardoso e Roberto Monteiro

"A alma boa de Setsuan" está em cartaz no Tuca, em São Paulo - SP.


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1 Response
  1. H.Olive Says:

    Eu te avisei sobre a Denise estraga-tudo Fraga... hehehe


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    Goiânia, Goiás, Brazil
    Jornalista por formação, especialista em Filosofia da Arte. Trabalho em TV, mas sempre ligada ao Jornalismo Cultural, com ênfase em Teatro e Cinema.

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