Anote na Agenda (28/05/10) + viciada seguidora





Hoje li um texto publicado no DM com o qual me identifiquei muito:

Alguns motivos para amar o Nu Escuro

por bCaetano Mondadori

Pensei em algumas maneiras de começar esse artigo que não tem tanta cara de artigo assim. Já que quero falar da Companhia de teatro Nu Escuro, que tem toda uma importância afetiva na minha vida cultural, poderia começar, sei lá, de maneira meio circense:
- Senhoras e senhores, é com grande alegria que esse artigo tem o prazer de apresentar...
No entanto, achei que seria um pouco megalomaníaco de minha parte e não combinaria com a real intenção do texto.
Depois, pensei em começar com um certo intertexto entre Shakespeare e a Companhia. Algo como, ser ou não ser apaixonado pelo “Nu”, ir ou não ir ao teatro, estar ou não estar no Cine Ouro esse fim de semana. Mas também não conseguia com esse início abarcar tudo o que eu queria dizer.
Foi então que me veio a ideia de começar esse artigo como se fosse uma crônica. Uma boa crônica deve começar com a narração de um fato que servirá para a argumentação do texto. Assim, eu poderia começar falando da primeira vez que eu vi o Nu Escuro e dizer por que eu não consigo deixar de ver a companhia sempre que eles se apresentam, mesmo já tendo visto e revisto a maioria de seus espetáculos. Bem, essa era uma boa ideia até perceber – ou relembrar – a dificuldade que temos em falar das coisas de que gostamos. Existe uma série de grupos e espetáculos que eu poderia ficar horas para descrever todos os meus ódios interiores e insatisfações. Afinal, todo mundo sabe criticar. Mas aí vem o Nu Escuro e cala a boca da gente. A gente só gosta, ama, idolatra, segue e pronto. Eu não consigo explicar e isso talvez mostre minha total incompetência como articulista, pois se eu fosse um bom escritor de artigos, daqueles bons mesmo, eu falava os meus motivos de gostar do Nu Escuro e pronto. Mas eu começo a pensar com meu computador e fico lembrando de todas as vezes que esse povo me fez rir, chorar nem tanto, pensar, refletir, andar atrás deles, me comover.
Bem, indo pela ideia da crônica... eu devo conhecer o Nu Escuro há uns três anos e tive a sorte de vê-los pela primeira vez com O cabra que matou as cabras, a montagem, a meu ver histórica, que eles fizeram de A farsa do advogado Pathelin, um texto francês medieval de autor desconhecido. Tudo no Cabra é um encontro feliz: atuações, direção, cenário, figurinos, intertextos, regionalismos, reconstrução de identidades. Tudo. E, vendo O cabra eu tive que saber de onde saia tudo aquilo. Foi assim que eu fui vendo os outros espetáculos do grupo. Exceto Envelopes, que é a minha dívida pessoal com Isabela Nascente, diretora desse espetáculo em particular.
Nessa caminhada para vê-los a gente tem que encarar o fato de o Nu Escuro sempre propor novos espaços para a interação cênica e lá vai a gente vê-los na rua, na lona de circo no Galhofada, em um pub, na imponência da Praça Cívica ou na modesta praça de um bairro desprovido de muitas coisas. E justamente por vê-los assim tão sem preconceitos, tão abertos ao público, tão inovadores sempre, é que a gente vai atrás mais e mais.
Acredito que principalmente o Nu Escuro é um forma, em mim, de quebrar um preconceito que tem que ser quebrado de uma vez por todas: o preconceito com o que é da gente. Já vi muito amigo se negando a ir ao teatro porque o grupo era local, mas quando se fala do Nu Escuro as pessoas mudam. Caso não conheçam, mudam a partir do momento que assistem. Todo esse respeito que a Companhia conquistou desde 1996 é prova de um teatro que nunca é feito sem seriedade e dedicação, que sempre é pensado em mínimos detalhes para que o público não tenha menos do que uma experiência catártica e sempre veja algo inovador. A comédia arrasadora em O cabra, a leitura de um clássico em O Alienista, a metalinguagem reveladora em Preciso Olhar, a intervenção com bonecos em Envelopes. Se se renovam os textos e as práticas teatrais o público do Nu sempre parece o mesmo: uma montanha de viciados seguidores. Eles conseguem fazer o impossível em Goiânia: os espetáculos deles são assistidos por pessoas do meio teatral. O que é estranho porque o que menos se vê no teatro em Goiânia é gente de teatro.
Mas será que esse público que se repete também é o mesmo? Não. O público nunca é o mesmo em um espetáculo, pois sempre somos outros, acrescidos de outras experiências, de outras expectativas, outros humores. Tampouco são iguais os espetáculos. As pessoas sempre me perguntam por que assistir a um espetáculo mais de uma vez. Ei, a gente assiste filmes mais de uma vez e os filmes são exatamente iguais. Teatro não. No teatro tudo pode acontecer. Algo pode dar errado e é maravilhoso ver atores mostrando suas habilidades e improvisando sem perder o personagem. Como o Nu faz isso bem! Nunca vi uma apresentação desse grupo que não me surpreendesse, que não me revigorasse, me não enchesse de alegria e vida.
Acredito que agora consigo explicar porque você, que está lendo essa coluna-artigo-crônica, deve sair de casa e assistir o espetáculo Envelopes do Nu Escuro essa sexta-feira, sábado e domingo no Centro Cultural Goiânia Ouro às 21 horas (domingo às 20). Não é porque é bom, ou porque tem bonecos, ou porque você vai rir, ou se emocionar. Você tem que ir para ser como nós, aqueles loucos que seguem o Nu Escuro onde quer que ele vá.

Caetano Mondadori é professor de Redação e responsável pela específica Coisas do Gênero


Sim, eu também sou uma viciada seguidora!
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    Goiânia, Goiás, Brazil
    Jornalista por formação, especialista em Filosofia da Arte. Trabalho em TV, mas sempre ligada ao Jornalismo Cultural, com ênfase em Teatro e Cinema.

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